Autismo: saiba mais sobre essa condição
O autismo é tema recorrente nos meios da educação e da saúde atualmente, especialmente no que diz respeito às crianças, idade na qual é diagnosticado na maioria das vezes. Algo que chama muita atenção na
O autismo é tema recorrente nos meios da educação e da saúde atualmente, especialmente no que diz respeito às crianças, idade na qual é diagnosticado na maioria das vezes. Algo que chama muita atenção na criança autista é, certamente, a dificuldade em – ou, às vezes a ausência de – interação pessoal. Isso é uma característica fundamental que vai definir sua personalidade ao longo de toda sua vida.
Quando criança
“[Essa dificuldade de interação] Manifesta-se com todo o mundo”, explica o neuropediatra José Salomão Schwartzman, em entrevista ao Dr. Drauzio Varella. “Como regra geral, a dificuldade de interação se dá com a mãe, o pai, os irmãos e com todo o mundo exterior”, acrescenta. Além disso, o Dr. Schwartzman também ressalta que a relação é mais próxima com pessoas familiares; ainda assim, entretanto, é distante.
Quando adolescente
“Na adolescência, as manifestações do autismo dependem muito de como o indivíduo consegue aprender as regras sociais”, explica o médico. Assim, um portador de síndrome de Asperger, por exemplo, acaba por atenuar um pouco a dificuldade de interação aprendendo as normas de convívio pelo intelecto. “Tenho pacientes relativamente bem integrados socialmente”, acrescenta o neuropediatra. A assimilação de regras sociais é, assim, possível em alguns espectros do autismo.
O afeto
De acordo com Schwartzman, o autista não se apaixona no sentido convencional. Relembra até o caso de Temple Gtandin, uma famosa autista americana, especialista em biologia animal, que foi perguntada em uma entrevista se sabia o que era a paixão. “Olhe, Oliver [Sachs, neurologista que a entrevistou], eu sou autista”, foi a resposta dela.
“Autistas não fazem ideia do que seja a paixão, mas são capazes de estabelecer relações duradouras”, afirma o neuropediatra.”Tenho alguns pacientes, casados, com filhos – alguns normais, outros não – que estabelecem relacionamentos sociais bem construídos e são independentes”, acrescenta.
Percebendo crianças autistas
Schwartzman afirma que, caso os pais e familiares não tenham um grau de familiaridade tão grande com o autismo, dependendo do espectro de sua criança, podem até mesmo não perceber. “Talvez não reconheçam o transtorno, mas seguramente irão perceber que existe algo de estranho”, afirma. “Mesmo o autista de alto rendimento, aquele que consegue levar vida relativamente independente, traz marcas que o acompanharão por toda a vida”, acrescenta.
As marcas registradas
Algumas marcas são mais perceptíveis, principalmente nas crianças. A grande dificuldade do contato olho a olho é uma delas. Além disso, algumas crianças autistas apresentam grande demora para desenvolver a fala, além de manter rituais muito rígidos em sua rotina. De acordo com o neuropediatra, a presença dos rituais é constante. “Os rituais dos autistas existem para dar-lhes a certeza de que o mundo não muda”, explica. “Às vezes, uma criança autista quebra uma porção de coisas em casa sem razão aparente. Quando se vai investigar, descobre-se que agiu assim ao dar-se conta de que um objeto qualquer não estava no lugar de costume.”
Isso ocorre porque há uma tendência, nos autistas, de querer que o mundo sempre esteja igual. O neuropediatra exemplifica: “Existem autistas que só comem um tipo de comida durante anos. Só sorvete, só arroz de determinada marca”, conta. “O interessante é que se a mãe muda de marca, eles olham para o prato e percebem a diferença”, acrescenta.
Tratando
O autismo, como lembra o neuropediatra, é uma condição que não tem cura. Existem alguns remédios que podem auxiliar no controle de certos sintomas, como a agressividade. No entanto, seu uso não é necessário. Muito pelo contrário: são remédios que não devem ser usados durante prazos longos e apenas quando estritamente necessários.
A busca por terapia verbal pode ser uma opção para os portadores da síndrome de Asperger, por exemplo, que são os autistas com a intelectualidade mais aguçada. “Ele pode beneficiar-se com essas formas de terapia, desde que o terapeuta conheça bem o tipo de dificuldade de compreensão do autista”, acrescenta Dr. Schwartzman.
Além disso, os pais precisam estar sempre procurando entender com mais afinco as dificuldades do filho. “Frequentemente pais de autistas necessitam de aconselhamento psicológico, não porque sejam causadores do problema, mas porque precisam aprender como lidar melhor com o filho”, explica. “A escola também deve ser instruída sobre o modo de proceder com esses alunos.”