Mães do Mundo: Maternidade em três tempos
por Luciana de Freitas Fácil não é, mas é boa! Na realidade muito boa, pois potencializa o significado e a relevância da vida. Em alguns aspectos, a maternidade pode decepcionar e até mesmo apavorar, mas à
por Luciana de Freitas
Fácil não é, mas é boa! Na realidade muito boa, pois potencializa o significado e a relevância da vida. Em alguns aspectos, a maternidade pode decepcionar e até mesmo apavorar, mas à sua luz enxergarmos melhor o outro, cuidamos e amamos, desenvolvemos humildade e paciência a cada dia.
A mãe que nasceu em mim, foi se formando enquanto minha cintura sumia, os números na balança aumentavam, os pontapés dentro da barriga doíam. até que não houvesse mais posição em que fosse possível dormir. No finalzinho da gestação, a ansiedade e o medo reinavam absolutos dentro de mim. Em 1987 fazíamos cesariana sem qualquer culpa, pois não se cogitava sobre partos humanizados. Nem nos consultórios médicos, nem entre amigas. Tive um menino lindo, enorme, por quem imediatamente me apaixonei. Amamentar, amamentei. Menos por ideal e mais para queimar a maior quantidade de calorias possível, retomando minha figura original. Funciona que é uma maravilha! Só assim para compensar a dor quase insuportável das rachaduras nos bicos dos seios, em carne viva e sangrando nas primeiras semanas.
Fácil não é, mas é bom! Aconchegar um bebê nos braços e alimentá-lo com o próprio corpo transcende qualquer outra sensação de poder. É poder absoluto sobre a vida. É responsabilidade. É plenitude. É amor.
E assim, aos 21, 22 anos, me graduei em maternidade e engenharia, me desdobrando entre fraldas descartáveis, noites em claro, casamento e provas do último ano da faculdade. E pesquisava tudo o que podia sobre educação e filhos. Sem Google e sem celular, aprendi Shantala, pediatria e pedagogia. Mas todo o conhecimento não me poupou dos pavores das febres, doenças infantis, tosses, corizas e inalações. Nem dos sustos com tombos, arranhões e machucados. Nem do eterno dilema das mulheres: carreira versus maternidade. Tampouco fui poupada da imensa alegria de apertar dobrinhas e bochechas com covinhas, me emocionar com os primeiros passinhos, as sílabas balbuciadas, as frases mais puras e os olhares mais curiosos e inocentes!
Aos 24, achei por bem aprofundar meus conhecimentos e sentimentos maternais recém adquiridos. Desta feita, sem pontapés ou remelexos na barriga, chegava a duvidar que alguém morasse novamente dentro de mim. Tal qual o primeiro, meu segundo parto foi cesárea, culpa zero. Nasceu uma menininha linda, doce e tranquila. E lá estava eu novamente apaixonada. Surpreendentemente ela dormia a noite toda e, eu também! Amamentação serena, bicos dos seios calejados e sem rachaduras e, de quebra, muitas calorias queimando. Adorava menina, oportunidade diferenciada. Mulher, companheira, igual. Casal de filhos. Responsabilidade e preocupação dobradas.
Fácil não é, mas é bom! Bom porque me senti plena, realizada. Detinha uma energia ímpar para me dividir entre as crianças, casa e trabalho. Aproveitava o ganho de escala. Me refestelei com as gargalhadas, com os desenhos e presentinhos, com os abraços e beijinhos. Estava pós graduada.
Divórcio. Fácil não é, mas é bom! Bom porque se aprende com as dificuldades. As suas e as do outro. Se aprende a refrear pré julgamentos. Se compreende que o melhor da vida é o percurso. Esse aprendizado. Casei novamente. Aos 29 outra cesárea. Feliz da vida, me apaixonei pela terceira vez. Outro menino que mamou no peito e depois, quando me dei conta, já era maior de idade. Esse é um diferencial só alcançado pelos terceiros. Se criam sozinhos, sem frescuras, comem o que querem. Incrivelmente, não adoecem! Nem choram. Nem quebram. As aflições ficam minimizadas e apenas se estica o tempo de alegrias e felicidade. Todos juntos, apenas por existirem, justificam o trabalho e a dedicação de uma vida. Não há nada que se compare. Mestrado concluído.
Luciana de Freitas (51) é mãe de Bruno (29), Mariana (27) e Henrique (22)