Quanta personalidade cabe em três anos de idade?
Por Cora Fernanda de Faria Lima, para o “Mães do Mundo”.
Férias de 20 dias, e uma sensação de trabalho em mina de carvão.
A frase mais falada neste merecido descanso, sem dúvidas, foi: “Posso entrar na água?”. E hoje ainda, sozinha, às vezes na madrugada, ela vem em minha cabeça, mente, ouvido, alma!!
Pois é, esperamos tanto por este momento. Um descanso merecido, pleiteado mês a mês, planejado, analisado juntamente com todos os outros da família, e quando retornamos, por vezes, sentimos a sensação de cansaço, exaustão.
Hambúrguer esteve incansável nestes dias. Praia, piscina, castelinhos de areia, patinete, aviões barulhentos, uma série de dinossauro exibida pela BBC (o presente de natal dele foi um tiranossauro rex inflável de 1,45m, pasmem!).
E eu, do alto da minha sabedoria de mãe de primeira viagem, de um moleque safado de três anos, saio deste período de folga, com mais alguns dados para meu acervo de conhecimento. Não obstante, folga para ele, pois “for me honey”, trabalho de verdade.
Pensando no quanto uma criança de apenas três anos pode lhe reservar. Pequenices diárias, que importam e nos trazem a informação da forte curva de desenvolvimento em voga. Esta dica traduz que você precisa se atualizar com a mesma frequência que o seu IOS faz. IOS “dá pau”? Você também dará!
1) Não: “Heitor, não avance para o fundo!!”. Claro que eu falava: “Volta aqui caramba!”. Grande coisa. A ausência de medo destes pequenos me assusta em vários momentos. Comprei um colete salva vida para ele, e ele adorou. Quando ia ao mar, pedia para coloca-lo. Ok, mas isso não quer dizer que ele esta livre de outros perigos. Ele entrava e queria nadar, nadar, nadar, sem destino, livre. Eu entendo que ele precisa aprender, mas nós mães não temos este botão do desapego. Sinto muito!
Em seguida deste não, vieram outros: Só que a vez, era dele: Não vou comer, não vou para sombra, não vou tomar leite, não vou comer macarrão, não vou tomar banho, não vou dormir. Acha que eu gritei. Não! Falei calmamente, explicando o quanto aquilo era prejudicial a ele. Mentira, eu gritei frenética e loucamente nestas férias. Lidar com esta fase em que eles descobrem suas opiniões, e que eles tem opções, geram conflitos bem carregados. O não, para mim, soa, por vezes como uma afronta. Perco a compostura.
2) Mãe, quero ver “tatassauro rex”: Um seriado sobre a criação e extinção, veiculado pela BBC de Londres, onde todas as espécies são mostradas e até estudadas. Quem extinguia quem? Quem sobrou? Falei um dia para ele: “Biscoito, e a Masha e o Urso?”, e ele me responde: “Estou falando de tatassauro rex”. Saí, saí…. e fui beber um copo de conhaque. Cansei deste joguinho! Rs
3) Mãe, eu te amo você!. Olhei e pensei: “Gente, ele canta Marina Lima”. Na verdade não! Ele chega todas às vezes, bem pertinho, e fala isso para mim. Achei isso fascinante. Para mim, e não para o que acontecerá daqui 15 anos com as menininhas. Isso me faz pensar o quanto é importante falar amo você para nossos filhos, pois foi o retorno, com certeza, daquilo que praticamos com ele. E o hambúrguer é bastante bajuladinho. Mas eu te amo você, ninguém falou, e é mera invenção dele.
4) Sobre sucos e água: “água Heitor?”. “Não, quero suco!”. E por aí vai mais uma discussão de horas sobre, tomar água. Se deixar ele fala não forever. Isto se encaixa perfeitamente para todos os outros experimentos. Peixe, macarrão, molho, chuchu, cenoura, tomate. Tomate na verdade é criptonita para ele: quando falamos tomate, ele joga capoeira, chora, sofre, chego a ouvir uma musica do Amado Batista com o sofrimento. Não mais briguei pelo tomate, e espero ansiosamente pelo dia que ele descobrir o significado daquele fruto, em uma bela pizza marguerita… Voltaremos a nos falar!
Na verdade, todos estes pontos resumem-se em abordar a quantidade de práticas e comportamentos que estes seres humanos, de 3 anos, desenvolvem, por vezes, em menos de uma semana. O não é uma palavra de praxe para eles, e com certeza, ao revés, a que mais falamos também. Querem , escolhem, preferem … Como assim? Eu andava no fundo do Fusca, sem nem saber quem eu era no mundo!
Pois sim, não me questionem sobre a maternidade nesta fase, porque o baile esta sendo grande. Meu entendimento de como “negociar” com ele, está indo além das minhas possibilidades, e é certo que, em alguns momentos, o levo ao castigo e até palmas, palmas, palmas. Me julguem!!!!!
Para ajudar, estamos na fase do desfralde, cujo assunto, abordamos em outro texto, pois ele é deveras, complexo.
Vejo que muitas coisas são próprias da personalidade dele. Definições específicas, e que já sei quem é o Heitor, por estas pequenas, mas consistentes apreciações, assim como o dinossauro. Acho que ele está se mostrando ao mundo, e de certa forma, o pai e eu, estamos aprendendo demais com esta formação, que já nos parece bem mais empoderada que nossa geração X. Eles são antenados e descolados. Ainda estes dias, estávamos todos saindo juntos de casa. Pegamos nossas coisas, mais o saquinho de lixo. Então, Heitor me questiona: “o que é isto?”. Com a pressa, soltei: ”Chouriço”. Logo recebo uma daquelas bem dadas: “Chouriço não, é lito (leia-se lixo)”.
E vamos, porque 2017 só esta começando!